Fake-Ollie 2004

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Sabe quando alguém chega e diz: ah, agora você vai ouvir umas verdades? Isso aqui é exatamente o contrário.

Textos às terças e/ou sextas.

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Olinto Neto, ou Ollie para os íntimos, vive e escreve em Fortaleza, CE.

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terça-feira, junho 15, 2004

Álbum de família, foto um

Tudo começou no interior da Bahia, nos anos 30. Maria Fernanda era moça bela e faceira, filha de um fazendeiro turrão, cujo nome não será lembrado. João Honório era rapaz forte, trabalhador, camponês típico, nascido e criado na fazenda do pai de Maria.

Todo romance de João e Maria é penoso, esse não foi diferente. Seu pai lhe avisou que não desse graças para os homens do campo, que ela havia de arrumar bom partido de nobre estirpe na capital. Até parece. Caiu nos encantos de João, e vice-versa. E lhe deu, muito mais que graças.

Quando soube da desfeita da filha, que anunciou d'uma só vez sua paixão e a vinda de uma criança, seu pai, aquele homem bruto, disse-lhe que "mulher sem honra não é filha minha".

Em seguida, mandou uns cabras irem dar cabo de João e, levando-a pelos cabelos, após uma surra, arrastou Maria até a margem do riacho, onde enterrou-a até o pescoço, para que ali ficasse até as águas subirem no fim do dia, levando-lhe embora a desonra e a vida.

Mas João, que além de apaixonado era sagaz e forte, desvencilhou-se dos capangas e correu para a fazenda, temendo o pior. Lá, não encontrando o fascínora maldito, foi ter com a mãe de Maria, que em prantos lhe confidenciou o ocorrido. Tocou seu cavalo até a beira do riacho e desenterrou Maria, ainda viva, com a água já batendo-lhe à boca, e com sua filha, dentro dela.

Não leva mais que um instante para que todo um destino seja decidido. E assim foi. Montaram no cavalo, e com a roupa do corpo, tomaram rumo incerto. Vieram tentar a sorte no interior do Ceará. Juraram esquecer aquilo tudo, e Maria ainda mais, apagou de si seu sobrenome e história, e assumiu o nome de seu marido, Alves.

Trabalhava na casa de dona Lavígnia, e João ia e vinha do interior para a capital cearense, onde agora trabalhava como pedreiro. Meses depois nasceu Francisca Maria. Muitos anos depois, João Honório morreu num acidente de obras, e Maria Fernanda, em seguida, de desgosto, talvez. Francisca Maria foi morar na capital, onde conheceu Manuelito. Este casal, anos depois, viria a ter, entre outros filhos, Maria Estela. E esta, há uns 30 anos atrás, teve a mim.

Eu e tantas outras pessoas, só existimos graças à honra e coragem de João Honório, que nos arrancou da lama do rio, nos deu nome e vida. Nesta que é a semana do meu aniversário, o parabéns é para você, João, onde quer que esteja.

(ollie)

"Well no one told me about her, the way she lied. Well no one told me about her, how many people cried..." (Malcolm McLaren / About Her)


ollie - # -

 

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