Fake-Ollie 2004

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Sabe quando alguém chega e diz: ah, agora você vai ouvir umas verdades? Isso aqui é exatamente o contrário.

Textos às terças e/ou sextas.

Autor

Olinto Neto, ou Ollie para os íntimos, vive e escreve em Fortaleza, CE.

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terça-feira, agosto 31, 2004

Três réquiens

I. Para um amigo, que a doença anoiteceu cedo demais, um forte abraço. Você era um oásis de alegria. Ser recebido com seu sorriso genuíno era uma injeção de ânimo. Agora que deixou a vida do corpo pra trás, percebo que de todas as pessoas ali, você era a única capaz de fazer algo pelos demais. O único a se preocupar com todos nós. E como se fosse pouco tanta oportunidade que nos presenteava, ainda passava e nos oferecia aquele bolo de fubá trazido de casa. Tapioca quentinha. As vezes eu me pergunto como você conseguia. Negro, homossexual, e carinhoso. Tem que ter muita coragem pra ser e fazer a diferença, nesse mundo. Como eu tenho orgulho de ter conhecido você. E como fico triste pelas circunstâncias profissionais terem nos afastado do convívio nestes seus últimos dias. Você sabe que eu não acredito nisso, mas vamos combinar que se no final houver mesmo um paraíso, você espera por mim lá com aquele sorriso, que dessa vez eu levo o bolo de fubá e a tapioca.

II. Para um ídolo, que se foi, aplausos de pé. Olha que engraçado, quando eu conversava sobre você com meus amigos, ouvia sempre a mesma asneira: "nossa, já viu como ele está gordo?" Nunca entenderam você, querido. Não iam entender agora. Mas lembre que sou seu amigo desde o primeiro filme. Vi como você foi ficando triste com os problemas na família, as desilusões da vida, da sua arte. Não é fácil para um de nós ficar triste, né? É uma pena. Mas não lembrarei de você assim. Lembrarei de você nos filmes. Aliás, deixa lhe contar um segredo. Sabia que eu atazanava a paciência de minha mãe, dona Estela, imitando seu grito de desespero? Hahaha. Aliás, sempre lhe homenageio pela paródia, e sempre lembro da sua postura, e do seu olhar. Fica tranquilo, viu. No que depender de mim, você ainda vive por muito tempo.

III. Para mim mesmo, que uma moça matou sem qualquer dó, eu desejo calma e paciência. É duro, mas fique calmo. Não há de ser essa morte que vai acabar sua vida. Aproveita o fato de ainda estar vivinho da silva para um monte de gente. Sai e abraça os amigos, busca diversão, escreve um texto, ouve a boa música, trabalha. Chora e grita também, mas só para purgar. Lembra sempre que se agora você está morto, é ela quem perde.

(ollie)

Notas

De acordo com o Alcorão, o paraíso é um esplendoroso oásis verde, recheado de córregos e fontes onde a água flui cristalina e há virgens de olhos amendoados. Lá são servidas comidas e bebidas deliciosas àqueles que em vida foram virtuosos ou guerreiros. (Sura LXXVI, 12-22 e LVI 12-39)

Last Stop: This Town, by Eels.

"Sou um homem alegre, claro. Um homem gordo nunca se sente infeliz. Se ele é infeliz, ele morre." (Sergio Leone, diretor de cinema, ao ser perguntado se era um personagem feliz ou infeliz)

Uma Rua Chamada Pecado ("A Streetcar Named Desire"), EUA, 1951. Diretor: Elia Kazan. Baseado na peça de Tennessee Williams.

"Caí no buraco. O buraco é fundo. Acabou-se o mundo." (tradic., trecho de parlenda, será a inscrição na minha lápide, quando chegar o dia)

"Once I was a young man, and all I thought I had to do was smile. Well, you are still a young girl. And you bought everything in style. But once you think you're in, you're out..." (Stereophonics / Handbags and Gladrags)

ollie - # -

 

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